segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O que resta da festa?

Nas festas populares e romarias Santas não pode faltar o belo do tapete de flores e serrim, feito pelas mãos (e colunas) dos devotos.
Um sinal de festa, pelas cores, antigamente com nítido carácter desodorizante. Tal como as noivas levavam o ramo de flôr-de-laranjeira, para que não se sentissem os odores de um banho não tomado, os tapetes de flores tinham como função perfumar a Nosso Senhor e às entidades clericais, a fim de serem bem vistas pelos devotos.

Actualmente usamos apenas o conceito de festa, a celebração de fieis e curiosos, que enaltece a localidade e o Santo que a viu nascer. É um bocadinho desse espírito que vivem estes fim-de-semanas aqui em terras de Santa Maria.

Ontem, na missa do Mártir Santo Ouvídio, ouvimos, como sempre, um pouca da história de este a quem lhe cortaram as orelhas. Isto seguido de uma perspectiva sobre o Evangelho que invocava à humildade. Terminando o sermão, com a certeza que não devemos estar ali apenas para cumprir o calendário festivo, mas porque o fazemos com fé e confiança.
Tudo isto, escutado com o coração, seria bonito e sentido, mas quando abrimos os olhos e olhamos à volta, com certeza que não é em humildade que vivemos. Vemos as senhoras que puseram o ouro mais fino, afinal era dia de festa... Até o Padre comprou vestimenta nova!

E depois de um belo "discurso", ainda vem falar ao povo, "meu povo". Agradece às entidades e pessoas empenhadas na realização da festa, dirigindo-se depois, numa atitude clericalista, ao povo. Honestamente senti-me medieval, mas desta vez com desodorizante.
E afinal a humildade foi-lhe toda pro galheiro no casulo vermelho, com estrelas douradas, que vestia. Estava orgulhosamente babado do seu "povo". A questão aqui é que o gesto de adoração não era para ele, mas para o Santo e para Deus.
Estas coisas de procissões podem dar para o torto. Os andores são pesados (falo com conhecimento de causa), os arcos de anjinho desconfortáveis (também por experiência) e os tapetes de flores escorregadios (idem). Estamos no centro de quem vê passar a festa, mas isso não faz de nós a festa.

A festa é criada no coração dos que preparar e esperam, numa tradição pouco lógica, a vinda da Salvação! A festa é de quem se verga no chão e faz o tapete... é de quem humildemente pinta o coração de côr, para louvar ao senhor. (esta parte era só pra rimar)

1 comentário:

João disse...

Só me ocorre parafrasear um amigo que há mais de 2000 anos disse:

"Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem."

beijo