sábado, 19 de abril de 2008

Vida de Gato I

O Texto de hoje tem o carimbo especial Nau dos Descobrimentos, porque foi este blog que me levou a reflectir sobre tudo o que vos conto já a seguir...
Foi também este bicho com ar de importante, vida independente e companheiro na viagem da vida, que me fez concluir uma coisa estremamente importante... Tão importante que os nossos neurónios frenéticos, sempre atarefados no dia-a-dia, não conseguem normalmente atingir por si só, porque são passos demasiado arriscados (e se calhar demasiado sem importância) para estarmos a usar o tempo a pensar nisso!

Exactamente, a usar o tempo. Temos a mania que perdemos tempo se fizermos coisas diferentes, mas hoje eu discordo totalmente - apenas usamos do tempo, que por acaso já é nosso, porque os momentos também nos pertencem a nós, para fazer coisas que achamos que são dignas de constar nos nossos momentos...
Quem sabe, um dia escreverão uma obra biográfica sobre a nossa vida e identificarão as 14h40 do dia 19 de Abril de 2008 como o momento em que escrevia estas coisas. :P


Pois bem, dois ou três dias atrás, dei comigo parada, olhando pela janela ao lado do PC para uma árvore que mexia com o vento, no terreno em frente. Senti-me assim, tal como o meu gato se deve sentir, sem mais nada na actividade do tico e do teco, a não ser o visionamento contemplativo daquela árvore a mexer-se.

Para quem tem gatos, com certeza já reparou que estes são seres muito observadores. E não o são apenas com a visão (que é para nós o fundamental dos sentidos):

Eles cheiram tudo o que é novo no seu pequeno mundo. Eu acho que o meu gato cheira cada botão de orquídea novo que nasce nos vasos das janelas cá de casa. Já viram que maneira espectacular de celebrar a vida da nova flor que está para nascer?


Sempre que escutam um novo som procuram por ele, movimentando as orelhas como se fossem duas antenas de Tv. Consegue estar a ouvir-me a mim e a outro gato que esteja nos telhados da vizinha de trás...


E definitivamente usam o tacto de uma forma muita cuidadosa. Estão a imaginar o rastejar de um tigre quando se aproxima sorrateiramente da sua presa? Pois ele também não pisa nenhum terreno desconhecido sem antes o sentir muito bem nas suas patinhas. Já pensaram que lição de prudência e cautela estes bichinhos nos podem ensinar?

A verdade é que eles não se limitam a cohabitar na Terra como seres desinteressados. Vivem intensamente! E muitas vezes o conceito de viver intensamente é confundido com viver a vida ao limite, podendo mesmo arriscar o nosso bem-estar. Eles exploram o seu mundo ao limite, não deixando passar nenhum cheiro, nenhuma forma, nenhum som... Fazendo de cada dia uma dia especial!
Nada melhor que agradecer as dádivas que nos dás a cada momento
Não deixando passar cada cheiro...
tal como os dos cozinhados da avó ao domingo!
Não deixando passar cada som...
tal como aquela música que tanto gosto ao passar na rádio!
Não deixar passar cada forma...
tal como as que sentimos quando abraçamos os outros!
Não deixar a vida passar ao lado...
Ajuda-me, Papa
a sentir os momentos como únicos
porque nunca se sabe quando os segundos param
e passamos a ser apenas instantes
Na gaiola da vida.

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