segunda-feira, 2 de abril de 2007

Algodão

Hoje decidi recriar a minha veia de contadora de histórias e sonhar...


Apresento-vos o Senhor algodão. este que aqui vêm ainda é um pequenino, um algodão suave e frágil, que vive refugiado na sua mãe algodão. E tudo o que este pequeninho conhecia era um campo branco, cheio de vida e de luz, onde acordava todas as manhãs.
No entanto o pequeno algodão não pensava assim: "Estou tão triste... só sou branco porque o arco-íris não gosta de mim! Se ele me tivesse dado uma cor bonita podia mostrar aos meus irmãos que eu sim era bonito... porque seria diferente!"


Até que um dia o pequeno algodão olhou bem para o alto e viu um céu tão grande, tão azul e com tanta vida (nele passeavam aves e nuvens) que o algodão pensou: "Gostava mesmo de ser Azul, azul com o céu!"
Então pediu ao vento que o desprendesse da mãe e o fizesse voar até conseguir falar com o céu. Depois da viagem flutuante, chegou perto do céu e muito entusiasmado gritou: "Sr. Céu. pode-me pintar de azul? Nem sabe como eu gostava de ser como o senhor..." E o Céu, de uma gargalhada de sol, respondeu: "Não meu filho, não te posso oferecer a minha vida. Todos os dias destroem um bocadinho de mim com fumos e coisas más que me dão muita tosse. E tu, és tão branquinho, ficavas logo todo sujo..."
O algodão triste aceitou que ser céu não seria a melhor escolha, mas agora não podia voltar pra casa sem ter uma cor pra mostrar aos irmãos...


Olhando triste para baixo viu uma imensidão muito verde, à qual o céu chamou de campo, e aproveitando a boleia do vento foi visita-lo: "Sr. Campo, que bonito que é. Pode pintar-me de verde? Gostava tanto de ser como o senhor..." O campo acolhendo maternalmente o algodão nas suas folhas respondeu: "Meu pequenote, não queiras ser como eu. Todos os dias me cobrem com umas vitaminas estranhas que me dão dores de barriga, para ver se as minhas folhas crescem muito rápido... Mas a verdade é que me sinto cada vez mais doente!"
O Algodão retribui abraço e decidiu que também não seria a melhor hipótese.


Decidiu então retomar o caminho a pé. Ao se aproximar de uma casa viu uma caixa com umas meninas muito cheirosas e coloridas: "Bom dia meninas, posso perguntar o vosso nome?" à qual elas responderam: "sim, algodãozinho. Somos as flores violetas." Vendo-as a sorrir o algodão achou se iria encontrar finalmente uma cor, então pediu: "As meninas importavam-se de me pintar da mesma cor que vocês? Gostava tanto de ser como vocês..." -voltando a sorrir, disseram: "Algodão, tu não podes viver aqui. Quem gostaria de viver num canteiro ou vaso, terminando para ser cortada e viver os últimos dias num jarro, até secar..."
Quase chorando deu um beijinho a todas e desejou-lhes muitas felicidades.


Continuando a viagem, viu no cimo de uma grande árvore umas bolas vermelhas penduradas. Trepou ao cimo da árvore e reparou que eram maçãs: "Senhoras maçãs, que coradinhas que são. Será que me deixam ser como vocês?" Uma das maçãs, a mais gorda e mais velha, tomou a palavra e disse: "Branquinho, só estamos assim coradas porque todos os dias os senhores que cuidam de nós nos polvilham com maquilhagem. Esta faz com que fiquemos vermelhinhas, mas é só por fora. Por dentro somos brancas como tu e algumas de nós ficam logo estragadas após sairmos daqui."
Mais uma vez o algodão desistiu de ser vermelho, mas continuou a sua jornada.


Ao saltar da árvore encontrou ao seu lado um grande pote cor-de-laranja. "Uau, que cor brilhante" pensou. "Olá Senhor balde, como está? Será que me pode ensinar como é ser balde?", falou assim já para se prevenir de uma nova desilusão. Mas o balde não lhe respondeu. Ele tentou novamente, chegou mesmo a lhe dar um empurrão e eis que o balde caiu por cima dele ficando tudo escuro. Perante o negro do plástico, que aí nada tinha para ele de natural, tentou escapar muito assustado, correndo muito...

Já cansado, decidiu refrescar-se nas margens do rio.

De entre as correntes de água viu alguma coisa dourada e cintilante, a mexer-se muito agitado. Pensou que não faria mais perguntas, já estava chateado com toda aquela viagem. Mas a coisa brilhante falou com ele: "Olá, eu sou o peixe. E tu quem és? Não deves ser de cá porque se fosses não serias tão branco e limpo." "Porque dizes isso?", perguntou o nosso amigo algodão. "Porque todos aqui somos de cores diferentes da nossa verdadeira. Existem dias em que umas portas, lá perto das fábricas, se abrem e deixam passar cores para o rio. então, todos nós ficamos coloridos. Alguns têm ficado doentes, mas eu continuo a experimentar as cores. Queres tentar?"

O algodão pensou um pouco e respondeu-lhe: "Sabes eu queria não ter a minha cor, queria ser diferente, mas agora percebi que não. Não porque muitas das cores do mundo são estranhas, algumas fazem-nos ficar doentes e outras mesmo não têm vida. Pois eu quero sempre ser um algodão branco, limpo e suave para que todos gostem muito de me abraçar", dizendo isto voltou a casa e deu um grande abraço a todos.



Abracem as Diferenças & não fiquem INdiferentes ao mundo que ainda respira à nossa volta!

1 comentário:

João disse...

O algodão não engana...