Trovadores XXI

Já lá vão os tempos dos trovadores enamorados...
Da menina que delicadamente guardava a sua mão para ser tomada de assalto,
entre a vergonha e a paixão..
Já lá vão os tempos dos palpitares por um simples olhar...
Mas será que é mesmo assim?
Acho que o romantismo do séc. XXI ainda existe,
mas numa dimensão muito mais humana...
Agora olhamos as pessoas de frente,
vemos-lhe logo todos os defeitos por detrás do sorriso mais apetecível...
Já não há encantamento? Mentira!
O encanto pelo Outro só tem um limite... o do nosso coração.
Por isso, se o quisermos abrir de portas escancaradas é sempre possível...
Vivermos encantados pelo dom da Vida... pelo dom do outro!

Mas viver encantado nunca será viver iludido...
Será ver de olhos abertos, aquele pedaço de barro imperfeito
e encantar-se com as suas curvas e formas!
Adoro conhecer pessoas que têm ideias firmes,
que sabem que o são, como o barro massa bruta...
Mas nem por isso acham que a sua forma é perfeita!
Nem tentam alcançar essa perfeição porque sabem que não irá existir.
Então vivem nas imperfeições do dia, como massas brutas, presentes,
ocupando espaço no espaço dos que se cruzam por eles.

Hoje ainda ouvia dizer que há pessoas que são ilhas,
mas quem me partilhava esta informação designava-se de península,
ou mesmo um completo continente...
Que não se via sem essas ligações e totalmente isolado!
Concordei plenamente que são as ligações que nos fazem...
Então seremos nós novamente trovadores,
pedindo aos outros, se não o coração, apenas a mão das suas carícias.

Mas como somos trovadores do séc XXI
(altamente Humanos)
por vezes desafinamos como o caraças,
provocando no outro a reacção de fechar a janela na nossa cara
sem nos deixar se quer chegar à parte que sabemos de cor...
E com que os vamos encantar!
Somos impacientes pela perfeição,
e não damos a mão a quem cantar com os olhos a brilhar,
mas apenas aos que afinarem exactamente no tom!

Será essa a melodia que mais preenche o coração?

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