Seremos Cães?

Como em todas as belas procissões que se prezem, o Pároco faz uma homilia sobre o Santo, bem a meio do percurso, invocando as suas virtudes e como as devemos seguir.

Hoje não tenho interesse particular em partilhar o tema do discurso, pois foi tudo sentido mas também factual. Devo antes falar sobre o indivíduo que assistia a este momento: o cão!
Este cão, enquanto as pessoas pararam no largo, aglomerando-se em volta do andor, decidiu sentar-se majestosamente.
Inicialmente encontrava-se a olhar o andor... depois as pessoas, com olhar desconfiado. Quando percebeu, julgo eu, que as pessoas não lhe iriam fazer mal, então abriu a boca com satisfação, olhando pra todos com alegria. Estava feliz o cão!
No entanto, a dada altura do discurso, quando o Pe. refere que "temos que mudar a nossa vida" o cão não gostou e virou-lhe o rabo. Afinal, estar aqui a ver o povo é engraçado... o andor até está todo aprumadinho, mas mudar a vida?! Isso é só prós padres, esses é que têm que dar o exemplo.
Continuou no seu lugar, apreciando, mas tal como algum dos bípedes que lá se encontravam, rapidamente se entediou da conversa e deitou-se, bocejando fartamente.

Tudo isto me fez reflectir sobre o nosso papel de cão, que se alegra com o motivo e segue a uma coisa bonita... ao invés de sermos gente de fé, que decide fazer a caminhada, rezando e cantando, porque Ama e Vive este Deus!

É engraçado, mas mais tarde nesta mesma procissão, quando dava a bênção final, o Pe. apele novamente à mudança: "Temos que mudar, amar..." e mesmo neste momento um passarinho voou sobre o tecto do andor. Foi um momento bonito, certamente apreciado por todos os que se encontravam cabisbaixos reflectindo sobre as suas "dores" e "peregrinações".

Deus quer nos assim, de peito aberto contemplando o céu, depois da caminhada... Fazendo-se de novo à estrada para levar Amor!
Pelo menos, acho eu...