A nossa pequena caverna

Ontem à tarde decidi fazer uma pausa no que estava a fazer e ver um pouco de televisão. Com os canais internacionais em sinal aberto deliciei-me com um pouco de desenhos animados, onde um miúdo muito engraçado (do tempo das cavernas) vivia numa gruta com a sua família... um bocadinho à nossa semelhança que vivemos todos nas nossas casas (grutas) desempenhando sempre o papel para que fomos chamados: trabalhar, estudar, etc. Também naquela família cada um tinha o seu papel e nunca saiam da rotina: caçar, cozinhar, etc.

No episódio em causa o miúdo disse uma frase tipo esta: "Está um dia tão bonito lá fora, acho que vou aproveitar para dar um passeio!"
Na nossa cabeça: Ok, tudo normal. Aproveitar um belo dia de sol para passear e respirar ar fresco... A verdade é que a mãe desatou a chorar quando ele disse isto e o pai deu-lhe um grande raspanete: "Não vês que estás a preocupar a tua mãe com essa conversa? Nós aqui na selva só saímos de casa para caçar. Ou então cairemos provavelmente na armadilha de um predador e morreremos. Agora, passear? Nós não fazemos disso!"

Ao início pareceu-me absurda aquela restrição, mas a verdade é que facilmente consegui transportar essa restrição para o nosso dia-a-dia. Nós também não temos o hábito de sair de casa para passear só porque o dia está bonito. Por exemplo hoje: está sol, faz calor, apetecia mesmo passear na natureza...
A verdade é que em vez disso apenas saímos de casa para trabalhar (caçar) e viver situações de verdadeira luta pela sobrevivência, à medida que procuramos estacionar o carro, conseguir um lugar na cantina, ou demonstrar que somos bons naquilo que fazemos. E assim deixamos passar dias de beleza infinita porque as "obrigações" falam mais alto.

Mas o miúdo não fez como nós e decidiu pôr-se a caminho à descoberta, terminando por dizer sabiamente: "Os Homens deveriam ter mais tempo para explorar a natureza!"